Acho que todos concordam que quando se usa a palavra dieta, vem na cabeça algo que se faz por algumas semanas ou que se faz durante a semana e para no fim de semana. Dieta de restrição calórica, dieta de baixa gordura e por ai vai. Dietas são apenas modificações no padrão alimentar de alguém que visam melhorar alguma questão na vida da pessoa, seja perda de peso ou para melhorar saúde e disposição em geral. São intervenções que são iniciadas, pausadas e retomadas sem problema algum, pois o metabolismo continua funcionando à base de glicose.
A cetogênica, por outro lado, é diferente. Ela não é apenas uma mudança alimentar, é uma intervenção metabólica. Quando você inicia uma cetogênica, seu corpo precisa aprender a usar um combustível completamente novo: a gordura. Esse processo de adaptação pode ser desafiador. Nos primeiros dias ou semanas, você pode sentir dores de cabeça, cansaço e até irritabilidade, sintomas que podem ser minimizados com algumas estratégias, mas que refletem a magnitude dessa mudança. Seu corpo precisa de tempo para recalibrar suas engrenagens internas e começar a produzir e utilizar corpos cetônicos como fonte primária de energia. Isso não é uma simples mudança de cardápio, mas sim uma transformação profunda na forma como suas células produzem energia.
E é justamente nessa transformação que muitos benefícios começam a aparecer. Passados os primeiros três meses, seu metabolismo atinge um estado otimizado, e a queima de gordura se torna mais eficiente. Nesse ponto, o cérebro começa a receber um combustível mais limpo e potente, o que pode trazer alívio para uma série de condições neurológicas e psiquiátricas. Transtornos como epilepsia, enxaqueca, transtorno bipolar e até algumas formas de depressão mostram respostas significativas quando o cérebro passa a usar corpos cetônicos, que fornecem uma energia estável e menos inflamatória do que a glicose.
Embora algumas partes do cérebro ainda precisem de glicose, nosso fígado é perfeitamente capaz de produzir a quantidade necessária por meio da gliconeogênese. Isso significa que, mesmo em estado cetogênico, você nunca estará “sem glicose”, apenas usando-a de forma mais eficiente. Isso é especialmente importante para quem busca estabilizar o humor, melhorar a função cognitiva e reduzir inflamações cerebrais que, em muitos casos, estão na raiz de condições psiquiátricas.
Além disso, com a insulina constantemente baixa, ocorrem adaptações hormonais que vão muito além da simples queima de gordura. A resistência à insulina diminui, a inflamação crônica é reduzida e os níveis de energia tornam-se mais consistentes ao longo do dia. Isso contribui não só para uma melhor saúde física, mas também para uma maior clareza mental, estabilidade emocional, melhora na função mitocondrial, redução do estresse oxidativo e aumento do foco e da memória.
É por isso que vejo a cetogênica não como uma dieta, mas como uma terapia. Ela não é algo que se faz por alguns dias ou semanas. Não é para ser interrompida nos finais de semana ou pausada entre ciclos. Isso criaria um estresse metabólico desnecessário, justamente o oposto do que buscamos com uma abordagem terapêutica. Por isso, prefiro usar o termo “terapia”, é algo que exige comprometimento, entendimento e, principalmente, constância para realmente transformar a saúde.
Então, se você decidiu iniciar a cetogênica, lembre-se de tratá-la como a terapia que ela é. Uma intervenção poderosa, profunda e, para muitos, transformadora.