Se você está na jornada cetogênica, provavelmente já ouviu falar dos óleos TCM. Eles prometem energia rápida, aumento de cetose e até benefícios cerebrais. Mas será que é mesmo necessário investir nos mais caros, geralmente vendidos como “C8 puro”? Ou os óleos que combinam C8 e C10 oferecem resultados iguais ou até melhores? Vamos explorar as evidências científicas e descobrir.
A primeira questão a se perguntar é: qual o motivo de usar esse óleo? É para benefícios neuropsiquiátricos ou apenas para elevar corpos cetônicos? Para responder a essa pergunta, precisamos primeiro entender o que são os TCMs e como diferentes ácidos graxos podem impactar nossa saúde – especialmente a saúde cerebral.
Os triglicerídeos de cadeia média (TCM) são um tipo de gordura comumente derivada do óleo de coco, óleo de palma e gorduras lácteas. Eles contêm cadeias de carbono de comprimento médio, normalmente variando de 6 a 12 átomos de carbono. Os TCMs mais conhecidos incluem:
C6 (Ácido Caproico) | Menos comum, conhecido por seu sabor e odor fortes e pouco agradáveis. |
C8 (Ácido Caprílico) | Rapidamente convertido em corpos cetônicos, frequentemente comercializado como o TCM mais “eficiente” para cetose. |
C10 (Ácido Cáprico) | Converte-se em corpos cetônicos de forma ligeiramente mais lenta, mas oferece benefícios metabólicos e neurológicos únicos. |
C12 (Ácido Láurico) | Tecnicamente um ácido graxo de cadeia média, mas se comporta mais como um ácido graxo de cadeia longa em termos de absorção e metabolismo. |
Embora o C8 tenha ganhado popularidade por sua rápida produção de corpos cetônicos, estudos recentes destacam as vantagens distintas do C10, especialmente para a saúde cerebral e função neurológica:
Um estudo de Warren et al. (2020) descobriu que o C10 pode inibir a sinalização do mTORC1 de forma independente dos níveis de glicose e insulina. Isso é significativo porque a hiperatividade do mTORC1 está ligada a uma série de distúrbios neurológicos, incluindo epilepsia, esquizofrenia e doenças neurodegenerativas como Alzheimer. Ao inibir o mTORC1, o C10 pode promover a autofagia (limpeza celular) e reduzir a neuroinflamação, potencialmente retardando a progressão da doença e apoiando a função cognitiva.
Ao contrário do C8, o C10 ativa o PPARγ (receptor ativado por proliferadores de peroxissomos gama), um receptor nuclear que promove a biogênese mitocondrial e a oxidação de ácidos graxos. Isso significa mais mitocôndrias, melhor produção de energia e maior resiliência celular no cérebro, o que é particularmente benéfico para condições como epilepsia e neurodegeneração (Warren et al., 2020).
Pesquisas mostram que o C10 pode regular a transmissão sináptica e diminuir a excitotoxicidade, que é um fator importante em doenças como epilepsia e distúrbios neurodegenerativos (Camfield et al., 2019). Além disso, a decanoic acid (C10) mostrou potencial em modular os níveis de neurotransmissores, promovendo um equilíbrio mais saudável entre GABA e glutamato, dois dos principais neurotransmissores envolvidos em transtornos neurológicos.
O C10 também demonstrou ter propriedades anticonvulsivantes diretas, independentemente da cetose. Isso o torna uma ferramenta valiosa para aqueles que controlam epilepsia e outros distúrbios convulsivos sem necessidade de restrição severa de carboidratos (Augustin et al., 2018). Além disso, o C10 parece melhorar a estabilidade elétrica das membranas neuronais, reduzindo a hiperexcitabilidade que leva a convulsões.
Vários estudos demonstraram que o C10 pode reduzir marcadores pró-inflamatórios como TNF-α e IL-6, que frequentemente estão elevados em distúrbios neuropsiquiátricos. Esse efeito anti-inflamatório pode contribuir para uma melhor saúde cerebral e potencialmente melhorar o humor e a cognição.
Para aqueles que acham que óleo de coco resulta em problemas cardiovasculares, podem ficar tranquilos. Em janeiro de 2025 foi publicada uma revisão sistemática que analisou 26 estudos realizados ao longo de 40 anos sobre o consumo de óleo de coco (CNO) e seus efeitos nos parâmetros lipídicos, como colesterol total (TChol), LDL, HDL e triglicerídeos (TG). O foco foi avaliar as mudanças nesses parâmetros em pessoas que consumiram óleo de coco, independentemente de comparações com outros óleos ou gorduras, e considerar a influência da duração dos estudos nessas respostas.
Eles concluíram que o óleo de coco tende a aumentar o HDL-colesterol e melhorar as razões lipídicas, sem aumentar de forma consistente o LDL ou o colesterol total. Ou seja, não há justificativa para evitar o consumo de óleo de coco com base no risco cardiovascular, pois não há evidências de aumento de eventos cardíacos (Newport & Dayrit, 2025).
Embora o C8 seja excelente para aumentar rapidamente os níveis de corpos cetônicos, o C10 oferece uma gama mais ampla de benefícios neurológicos que vão além da simples produção de energia. Para aqueles interessados em otimizar a função cerebral, controlar distúrbios neurológicos ou simplesmente melhorar o desempenho cognitivo, escolher um óleo TCM com maior concentração de C10 pode ser um investimento melhor a longo prazo. Prefira os TCM nacionais que tem um mix de C8 e C10, ao invés dos importados com apenas C8. É difícil encontrar um que tenha mais C10, mas é melhor comprar um que tenha 40% do que nada. Segue uma micro tabela das marcas nacionais de MCT mais conhecidas e suas porcentagens:
Marca | % Ácido Caprílico (C8) | Ácido Cáprico (C10) |
---|---|---|
TCM Copra | de 55% a 65% | de 35% a 45% |
Pura Vida | 60% | 40% |
Essential Nutrition | 60% | 40% |
Então, na próxima vez que for escolher seu óleo TCM, considere as vantagens do C10 e economize seu dinheiro. Quer saber como incorporar esses óleos na sua dieta para melhorar sua função cerebral e energia? Entre em contato para uma consulta e descubra como a terapia cetogênica pode transformar sua saúde.
Camfield, C. S., et al. (2019). Decanoic acid modulates neurotransmission and protects against neurodegeneration. Frontiers in Neuroscience. https://doi.org/10.3389/fnins.2019.00873
Warren, E. C., et al. (2020). Decanoic acid inhibits mTORC1 activity independent of glucose and insulin signaling. PNAS. https://doi.org/10.1073/pnas.2008980117
Augustin, K., et al. (2018). Mechanisms of action of the medium-chain triglyceride ketogenic diet in neurological disorders. Journal of Clinical Medicine. https://doi.org/10.3390/jcm7110321
Newport, M., & Dayrit, F. Analysis of 26 Studies of the Impact of Coconut Oil on Lipid Parameters: Beyond Total and LDL Cholesterol. Nutrients. 2025; https://doi.org/10.3390/nu17030514.